segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Episódio com Daleks como tem toda temporada


Outra semana de agosto, a última, finalmente. Se aproxima o espocar da champagne e o retinir das taças, como dizia Arrigo Barnabé. Outro episódio de Doctor Who e outra rodada do campeonato brasileiro. Outra derrota do palmeiras (de duas), causada mais um vez por erro do goleiro. É melhor não me alongar nisso, já que nem vi a maior parte do jogo contra o Internacional (que deveria se envergonhar de não ter feito mais gols) pois fiquei irritado e aproveitei que já tinha baixado o tal episódio do Dalek. Peço desculpas desde já por qualquer spoiler que esse texto venha a conter, melhor ler só se já tiver realmente visto (e se não ler também não vai perder muita coisa; mas também afinal em que um spoiler estraga a experiência audiovisual hoje em dia?).

Lembro-me como se fosse ontem o meu primeiro "episódio de Dalek", oportunamente o primeiro com os principais vilões da série em sua nova encarnação, e que foi chamado na época apenas de "Dalek", no singular. Para mim (e muitos chatos) os roteiros mais fracos do "revival" costumam girar em volta dos nossos exterminadores favoritos. É claro que o sexto episódio da primeira temporada é uma exceção. Outra exceção, e aqui entramos na abordagem psicológica também presente no primeiro e que está escancarado neste "Into the Dalek", é "Asylum of the Daleks", o primeiro episódio da sétima temporada. Em 2012 estávamos caindo também... ops, prometi não falar sobre futebol em posts sobre Doctor Who.

Analisando superficialmente não há nada de tão original nesse episódio. Já está virando uma regra em histórias do tipo se focarem em: 1) o enorme ódio que o Doutor sente pelas criaturas mais odiosas do universo e 2) na psicologia da criatura, desse ódio (programado) por todas as coisas (que são inferiores, daí a analogia com o nazismo), que a motiva a destruir. O conceito de Dalek defeituoso (dementes) já havia sido utilizado também em "Asylum of the Daleks". Em "Dalek" também vemos um Doutor atormentado pelo ódio, principalmente quando conhecemos o tipo de situação que essa regeneração havia acabado de passar, os horrores que vivenciou e que estava tentando esquecer. A natureza dos nazistas espaciais já foi analisada de diversas formas ao longo desse meio-século, e o caso aqui também tem muito de reciclado, apesar de tentar apontar para novas possibilidades (i.e. a possibilidade de um Dalek se tornar "bom", por defeito ou realização existencial acrescida de defeito físico - ou não).


Miniaturização também é um tema já utilizado no passado da série, e é uma referência bacana das ficções científicas dos anos 1950 e de desenhos animados em que ela ocorre com o intuito de possibilitar a exploração (educativa) do corpo humano. A anatomia do Dalek acaba por virar um grande plus do episódio, com uma mistura de cenários Alien-like, escuros e misteriosos, a ameaça constante dos anticorpos mecânicos que protegem o organismo, e a parte orgânica da criatura (impressão minha ou realmente foi feito em stop-motion?).

Na maioria dos roteiros o potencial decisivo da Clara não é explorado, transformando a moça em uma garotinha chata e serelepe em demasia, e na temporada passada o seu personagem acabou sendo engolido pelas comemorações dos 50 anos da série. A sua sequência inicial, Clara professorinha dando em cima do ex-soldado, não me agradou. Até entendi a ligação desse acontecimento com os outros soldados presentes na parte principal da história e a atitude preconceituosa do Doutor para a categoria (e já que o Dalek é o soldado perfeito, sendo pré-disposto biologicamente para tal, também é alvo deste "preconceito", mais visceral obviamente). Mas em outros dois momentos, e principalmente no seu tapa elucidativo no Doutor, que o desperta na busca de uma solução para o problema que havia se revelado logo após a resolução do anterior, a companion do time até que consegue dar uma assistência para um gol bonito. Livre das amarras da "Garota Impossível", estamos vendo um desenvolvimento de personagem melhorzinho e finalmente a companion age como companion, por isso ando repensando a minha birra com a moça (mas acharei bem vindo uma mudança, pode até ser a soldado deste episódio, que tem negado o seu pedido para participar da festa da Tardis por ser milico).

A cena em que o Timelord, ao tentar convencer Rusty de sua bondade, acaba estragando o seu plano ao compartilhar com o Dalek suas lembranças - incluído aí o seu ódio extremo por eles (é bom lembrar que em "Asylum of the Daleks" o Doutor é apagado do banco de dados das criaturinhas, o que não as impede de continuar exterminando pelo universo afora), está desde já entre as minhas favoritas. Rusty acaba mais uma vez adquirindo um ódio mortal por aqueles da sua espécie: saem vitoriosos, ao passo que ele acaba com todos aqueles que estavam invadindo a nave da resistência humana, mas ao mesmo tempo não era isso que o senhor do tempo queria. Apesar da moral aparentemente volátil, o Doutor de Capaldi anda em dúvidas acerca da sua natureza (não sabe se é bom ou ruim, mas irá descobrir que se encontra num meio-termo).


~eps de daleks~ deste tipo são melhores, na minha opinião, que roteiros focados quase que exclusivamente em combate e invasões em massa, mesmo que já não representem novidade nenhuma. Até o combate, aqui numa escala bastante reduzida, volta a parecer aprazível e agoniante, principalmente quando confrontados por soldados humanos em menor número. Enfim, Capaldi continua a me animar com o seu estilo firme de atuação e o seu cínico Doutor que não fica choroso ao fazer algo "ruim". Jenna-Louise Coleman e a sua antes sem sal Clara começa a brilhar, nesta que tudo indica será a sua última temporada na Tardis. O sub-plot que começa a se desenvolver aqui provavelmente evoluirá para a necessidade do término de seu período como companion. A incógnita da temporada, a tal da Missy, faz a sua aparição de lei. Procurem acompanhar as teorias do fandom sobre tal "mistério", é sempre engraçado.

O próximo episódio é o que me preocupa e tem tudo pra ser um filler fedorento (roteiro de Mark Gatiss, sabe, faz a gente ficar com as orelhas em pé), mas Capaldi é capaz de levar nas costas até isso. Melhor não se preocupar tanto, deixar rolar e ser envolvido pelo filler até sentir a sua necessidade para o desenvolvimento do plot e... parei.

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