quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Ser um chato infeliz está acabando com a minha vida (ou ao menos matando o prazer de ver Doctor Who)


Eu sou infeliz por diversos motivos. Um deles é por não conseguir abstrair as besteiras que somos bombardeados todos os dias. Isso inclui, obviamente, obras de entretenimento e me faz abandonar tantos seriados e animes todos os anos. A maioria nem são coisas tão estridentes assim. Queria poder alimentar mais a minha criança interior, só que eu também fui uma criança bem chatinha.

Havia encucado que ia odiar o episódio deste sábado dessa série britânica que venho acompanhando religiosamente a tanto tempo. Muito disso se deve ao roteirista, famoso pelos seus textos ruins, mas a temática também me preocupou a partir do momento que soube se tratar de um cenário "histórico", onde o Doutor visitaria a Inglaterra medieval, à pedido de Clara, e lá dá de cara com Robin Hood. Logo coloquei na minha cabeça que disso não poderia sair uma coisa legal, já que suscitaria em mim conflitos historiográficos demais para poder me entreter 100%.

Ora, esqueço que Doctor Who ainda mantém o seu espírito infanto-juvenil, episódios assim são esperados todos os anos. A série clássica também era célebre em explorar o passado além do futuro e presente, afinal de contas a Tardis é uma versão da máquina do tempo do livro de H. G. Wells que se desloca também no espaço, e em seu início até era utilizado como ferramenta educativa (o primeiro Doctor, além da sua neta, carregava consigo o casal de professores desta). Robin Hood, apesar de ser uma lenda surgida da lore popularesca, ajuda-nos a entender anseios da população miserável da Europa medieval. Personificar a lenda não foi o problema; representar ele e seu bando como é representado em um sem número de desenhos animados da década passada também não.

Que pena que eu sou um infeliz, existem momentos até verdadeiramente bons aqui, engraçadinhos. É mais leve realmente do que os anteriores, o ritmo é muito diferente também. Principalmente, tirando uma referencia que o liga ao resto do que parece ser a trama central da temporada (sempre tem, né), se trata de uma história fechada, prejudicada pelos limites impostos pelos 45 minutos. Está cheio de alegria e felicidade, coisa que já me deixa irritado. Eu não queria ser assim tão chato!

A correria do meio ao final, do desenvolvimento à conclusão, prejudicou o plot, que já havia me causado ojeriza quando soube o tema. Pra não dizer que para mim nada pode ser aproveitado (até porque se fosse dar uma nota seria 6/10, o que já daria para passar de ano se a média fosse seis), me agradou a discussão sobre heroísmo, já que a desconstrução do Doutor como "herói" é uma das coisas boas que se está desenvolvendo nesta temporada. No ápice de tudo, uma resolução das mais idiotas para o problema. Já vi muitas resoluções retardadas, mas essa realmente me deixou de cabelo em pé.

Claro que outro ponto positivo é o Capaldi, não poderia deixar de elogiar a sua atuação como estou fazendo sempre. O que me deixa particularmente feliz é o quanto esse Doutor se distancia do bobão anterior (bobão que eu até que aprendi a amar), e a sua atitude e ceticismo neste episódio em especial (e humor ácido que vem sendo a sua marca) geraram bons momentos. O Doctor de Matt Smith adoraria zoar com o Robin Hood, riria com ele ao invés de suspeitar da sua existência por praticamente toda a duração da história e zombar deste jeito "bobo alegre" do arqueiro (fiquei triste que na cena do banco de dados não aparece uma foto da melhor versão de Robin Hood que o cinema já produziu, que é a dos Trapalhões; mas aquele "moderno" e com a Xuxa, não o de 1974). Exste até uma química legal nesse conflito entre Robin e doutor, e o ator que o interpreta não é ruim não. Repito: estou deixando a minha criança interior, que já era meio chata (mágoas de sertanejo), morrer e com isso o gosto pela aventura, pelo simples escapismo. Se conseguisse abstrair os momentos retardados como a resolução e Clara (não consigo explicar isso, tem vezes que eu adoro e tem vezes que eu abomino essa personagem e torço mesmo para que ela saia no meio da temporada) talvez teria aproveitado melhor. Talvez ele só precisasse de outra chance, que não terá agora evidentemente.

Infelizmente sou uma pessoa ruim e rancorosa, não pararei de reclamar desse episódio até o Moffat aprontar das suas novamente.

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