segunda-feira, 15 de setembro de 2014

If Everyone Was Listening


Houve um tempo que o nome de Steven Moffat, junto do título do episódio, era garantia de qualidade, como o selo Nintendo no cartucho do joguinho. Num belo dia o escriba co-autor de Coupling assumiu a batuta de showrunner, e todo mundo achava que isso transformaria automaticamente todos os roteiros em coisas épicas como eram os seus episódios durante as outras quatro temporadas. Não foi bem isso que aconteceu, e as suas próprias histórias começaram a serem vistas como ruins ou medianos por uma legião de fãs rancorosos (ou não), salvo algumas exceções. Outros roteiristas se destacaram entregando essa qualidade que antes era vista em Moffat Episodes, como os poucos de Neil Gaiman. Mas o homem de vez em quando acerta, como em "Listen", episódio deste sábado dia 13 de setembro de 2014 Anno Domini (status do Palmeiras na rodada: incrivelmente houve algum esforço, não fosse o goleiro, erros absurdos, as inúmeras chances perdidas e arbitragem... enfim, era esperada a derrota).

E quando digo "acerta", não quer dizer que a experiência foi passável, como o primeiro episódio desta temporada. Acertar é jogar num nível de jogo comparável às suas melhores partidas da era Russel T. Davies: "The Empty Child" "The Doctor Dances" "The Girl in the Fireplace" (meu favorito, principalmente pela abordagem histórica inteligente e sensível) "Blink" etc. A essa lista adiciono "The Eleventh Hour", primeiro da sua era. por ser senão o melhor um dos melhores episódios de apresentação de todas as temporadas, incluindo aí a série clássica - e forçando um pouquinho a barra, já que o meu conhecimento da clássica nem é tão grande assim.

Claro que "Listen" possui muitos dos tropes favoritos do seu roteirista, mas aproveitados da maneira correta. Clichês emaranhados, sem deixar de ser bom. Não tinha visto nenhum teaser referente a tal episódio, portanto só hoje fiquei sabendo que um tanto daquele monólogo inicial fazia parte de vídeo já divulgado pela BBC. Ora, pois realmente possui o formato de material de "promoção", mas também vira um elemento muito interessante da narrativa. Gosto de ver a quarta parede ser quebrada, como nos inícios dos filmes de Zé do Caixão. Pra não dizer que não sabia nada dele, havia visto o preview apresentado ao final do episódio passado. Sabia que o tema do episódio seria "medo", e a possibilidade de outra história de "terror" me deu um misto de animação e "mas de novo?". "Listen" não é da leva de episódios "de susto", de forma alguma.

Os momentos centrados em Clara e o professor ex-soldado (e que agora oficialmente está em um relacionamento com a Companion professorinha mais odiada) Danny - Rupert - Pink possuem a dose de humor e tensão sexual (afinal de contas se trata de um encontro) que Moffat costuma dar aos seus roteiros, mas que nem sempre funciona. É bom lembrar que tal gosto por diálogos cômicos em relacionamentos vem da época em que escrevia Coupling. Se no segundo episódio os momentos entre os dois só me causou vergonha alheia, aqui consegui aceitar esse sentimento como parte da comédia. Até parece que nunca viu seriados ingleses de comédia!

Ao mesmo tempo que em "Into The Dalek" achei que a introdução do referido personagem parecia ser apenas uma desculpa para um romance da Clara, acabando com a tensão que havia entre ela e o Doutor (ao menos com o Matt Smith), no fundo confiava que ele teria importância central nos acontecimentos vindouros na temporada. Essa importância é evidente nesse episódio, e ao menos para mim fica claro que logo mais ele será introduzido na Tardis, apesar da Clara ainda não ter revelado sua relação com o garotinho Rubert Pink (que mais tarde mudaria o seu nome para Danny e entraria no exército por sugestão indireta de Clara no passado) e o seu possível descendente Orson Pink, o primeiro humano viajante do tempo, 100 anos no futuro. Muitas viagens no tempo neste roteiro, mas com a trama um pouco mais arrumadinha e determinista do que estávamos nos acostumando a ver.

Já disse que o tema principal é o medo, na sua manifestação mais infantil. Pois bem, teoriza o Time Lord, e se uma criatura, com a evolução da sua espécie, aperfeiçoasse o suficiente a sua capacidade de se esconder ao ponto de dividir o mesmo espaço de humanos? Mas em algum momento, no meio da noite, resolve puxar a perna do pobre garotinho que acordou assustado. Já tivemos um bicho-papão em Doctor Who, criaturas moradoras do espaço existente embaixo das camas e que puxam pernas, se anunciando no meio da madrugada, também fazem parte do universo do medo infantil da noite, junto dos barulhos específicos e alucinações causadas pela escuridão. Esse "medo" em específico acaba por não ser o foco, e sim todo o sentimento, exemplificado pelo discurso do Doutor para o guri e, ao final, o de Clara para outro guri (você sabe quem) em outro planeta. O medo é um superpoder, ao passo que o mantém alerta e capaz de revidar, mas também pode ser um companheiro, já que é preciso aprender a conviver com ele.

Chover no molhado elogiar a atuação de Capaldi, e aqui ele foi mais Shakespeariano do que todos os anteriores juntos. Jenna também teve seus bons momentos, apesar das limitações da personagem. Brinco, mas adorei a Clara professorinha de primário com o pequeno Rupert, assim como achei muito bonito seu tratamento quase materno com o pequeno Doutor. Algo nessa visita da moça ao Time Lord num período nunca antes explorado na série me incomoda, e como se não bastasse suas ações acabam por motivar grande parte da trama. O circulo se fecha, aqui, na Garota Impossível, como se não tivessem inventado importância o suficiente para a professorinha. Mas como finalmente estamos vendo desenvolvimento de personalidade, bem... tenho que abstrair!

Me impressiona a quantidade de supostos fãs de Doctor Who reclamando da ambiguidade deste episódio em comentários de reviews e em fóruns pela internet. Muitos querendo respostas fáceis, mastigadas, e o foco na criatura que se espera do seriado. Ou ao menos do que essas pessoas ainda acham que faz o seriado ser o que é. Não vou descer de nível chamando o povo de burro e o escambau, mas é por causa de episódios assim (que já existiam na clássica, apesar do seu foco mais infanto-juvenil, coisa que a nova também é em diversos momentos) que gosto tanto da série. Vai ver que é por isso que até tenho um certo apreço ao Doctor Who do Moffat: os tropeços são evidentes, mas oferece uma boa variedade de episódios: uns mais introspectivos e "cabeça" que nem esse e outros mais voltados para a ação. A não existência de um vilão pode incomodar também. Mas faz tudo parte desse show. Adoro odiar o Moffat, taí uma verdade.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Momoe Yamaguchi, a era Showa e sua música popular

O Japão era outro na década de 1970. O perfeito prelúdio para essa década foram as revoltas estudantis que ocorreram nos últimos anos de 60, esses dois anos tão nervosos em todo o mundo, a começar pelo maio de 1968 francês. Yukio Mishima e o seu seppuku ao abrir da década faz cair por terra o sonho, ao menos por aquele instante, pela volta do Japão de outrora, o imperador como líder incontestável e livre de qualquer influência ocidental-estadunidense, cujas forças de ocupação tinham deixado o pais em 1952 mas permaneceria para sempre sua influência na política e sociedade. Permanecia também amarras na questão militar, buscando conter o espírito imperialista japonês que o fez tentar dominar toda a Ásia e se aliar ao Eixo.

Em matéria de música, o fim da guerra também trouxe mudanças significativas. Deixado de lado as marchas militares, o enka tomou conta da rádio, gravadoras e televisão. Erroneamente chamado de música tradicional, ele procura incluir sim referências ao folclórico, mas é uma invenção do pós-guerra e incluí influência do jazz vocal norteamericano - da mesma forma que é em matéria de instrumentos, tirando coisa ou outra de tradicional. Mas o enka sempre se baseou em técnica vocal e sentimentalismo, pelo seu ritmo típico de balada. Não demorou para surgir um outro jeito de cantar, com até mais apelo popular que o enka, e que também representava a abertura da cultura japonesa ao estrangeiro.

Como termo que reúne estilos musicais distintos mas que se distinguem do enka e do j-pop (conceito também muito recente, próprio da década de 80) surgiu o kayōkyoku, que em nihongo significa apenas canção popular. Seus cantores não forçavam tanto a voz para cada música soar como óperas trágicas, seu ritmo muitas vezes era mais rápido e suas influências externas cada vez mais óbvias. Se cantores como Hachiro Kasuga representavam o enka em sua forma pura, outra como Hibari Misora, que também se consagrou no enka, poderiam se encontrar no segundo grupo, estando no limiar do kayōkyoku ao gravar canções de diversos estilos. Hibari Misora também foi uma das mais populares artistas do pós-guerra, e era uma artista completa já que além de cantar, com uma flexibilidade tremenda, atuava bem o suficiente para os filmes açucarados da época.

Nos anos 60 tais influências se distanciaram do jazz para encontrar no rock e no crescente pop americano os elementos para serem copiados. É a época também das idols francesas, do yé-yé, que planta as sementes para a indústria idol nipônica. É a década de muitas bandas de rock formadas por garotos que ouviram Beatles (e outros ingleses) demais, mas na mesma medida surgem cantoras e grupos femininos como a dupla de gêmeas The Peanuts (as pequeninas dos filmes "Mothra" e "Ghidorah, The Three Headed Monster", que cantam para "summonar" a mariposa), cuja discografia inclui muitas versões de sucessos ocidentais.

E então nos anos 70 surge Momoe.


Nascida em 1959, e assim como Hibari Misora (que havia se iniciado como cantora antes dos 10 anos de idade, gravando aos doze), começou a sua carreira muito cedo, em 1972 - tinha 13 anos. E assim como Misora, a carreira de Momoe já iniciou-se dividida entre a música e a atuação. Foi no cinema que ela encontrou aquele que em 1980 viria a ser o motivo da sua precoce aposentadoria (por causa de casamento), o ator Tomokazu Miura.

Momoe primeiramente seguiu as fórmulas já consagradas da indústria cultural, com os seus filmes açucarados e músicas de amor, algumas no início de careira já com subtexto sexual, bem leve, como viria a ser comum em letras de idols = principalmente em se tratando de grupos e artistas que exploravam a juventude, sailor fuku, descobrimento do amor, etc. O que vale observar nesses primeiros singles é o óbvio talento para a canção que a menina já demonstrava, com uma voz forte que não sofreu variação (negativa, ao menos, já que dá pra dizer que ela dá uma encorpada) do primeiro ao último álbum. Momoe aos treze já cantava como mulher. E era capaz de cantar de tudo, como demonstra a inconstância de gêneros do seu primeiro disco, "Toshigoro" (já recebendo o título do seu primeiro filme, mesmo nome da música tema). É variado, mas é essencialmente o pop que se fazia naquele momento no Japão, com faixas remetendo diretamente ao girl pop americano da década anterior. 

Liricamente o disco de 1973 é mais interessante que a sua estréia. E é a partir de 73/74 que explode realmente em popularidade, sendo bem representada pelo convite para abrir o Kohaku Uta Gassen (tradicional especial musical de reveillon, exibido todos os anos desde o começo da década de 1950 pelo NHK) do final de 1974. Lá, Momoe canta o seu single de maior sucesso à época, "Hito Natsu No Keiken" (pode ser traduzido como "uma experiência de verão").  Em certo momento deste seu 5º single. Momoe diz que está disposta a lhe dar (para quem a canção se refere, um garoto ou ao ouvinte) aquilo de mais importante que uma garota possui. É claro que a interpretação sexual de tal frase (o mais importante; sua virgindade), assim com coisas mais óbvias tal qual "Les Sucettes" da France Gall, escrita por Serge Gainsbourg já com a intenção de subversão em mente, acabou por ultrapassar interpretações mais inocentes (Momoe mesmo dizia se tratar de "devoção", mas as intenções do compositor provavelmente eram outras). Apesar de aparentemente recatada até hoje, a sociedade japonesa daquela década já estava aberta para discussões acerca de sexualidade, afinal de contas a abertura sexual dos anos 60 também atingiu aquele oriente ocidentalizado. 


"Hito Natsu No Keiken" também é o título do seu 4º disco (já que esse single era o seu carro chefe), e é o primeiro de uma série a contar também com pequenas narrações no começo de algumas faixas, algo raro em se tratando de música pop. Nos anos seguintes veio o amadurecimento (de voz e ideias), enquanto continuava a participar dos especiais da NHK e lançar discos e filmes todos os anos. Enquanto no pop japonês grupos como as Candies (um dos grupos idol originais) e Pink Lady (esse segundo, uma dupla formada em 1976, calcada na disco music e que também teve um programa - horrível - na TV americana na década seguinte) faziam relativo sucesso com músicas animadas e rápidas, as canções de Momoe tomaram direções mais sérias, apesar de ainda cantar um pop muito comerciável e não sofrer declínio na sua popularidade como atriz e cantora, mantendo também uma variação em seus discos. A evolução de Momoe como artista é também a evolução desta música que viria a se tornar o que hoje em dia chamamos de j-pop, principalmente a partir e durante o período da baburu keiki (a bolha financeira e imobiliária da metade dos anos 80 aos 90).

O ápice de criatividade e musicalidade naquela década para mim se dá em dois álbuns, resumindo; o primeiro, "Golden Flight", de 1977 e "Cosmos", do ano seguinte. "Golden Flight" é a década de 70 em forma de disco pop japonês, condensa em dez faixas rock, blues, jazz, um pouco de disco music, reggae... talvez um dos mais ecléticos de toda a discografia, e com esse pluralismo cosmopolita dialoga com o city pop em voga nos toca-fitas de carros esportivos que transitavam pelas ruas de Tokyo, dirigidos por yuppies. Sim, se trata de um disco de muito groove. O clima meio city pop está presente principalmente em "L.A. BLUE", de 1979; aqui o baixo brilha em quase todas as faixas, como é de praxe no "gênero", emulando um pouco de funk e soul, uns metais aqui e ali. Coisa fina.

Entre esses trabalhos diferenciados (e depois de "Cosmos"), uma outra ode à balada dramática se eleva em 1978 com "Dramatic" e "Manjushaka", e em 1979, "A Face in a Vision". Momoe prova, nesses seus últimos anos de carreira, que podia fazer de tudo, sem perder brilho.

"Cosmos" também se destaca por ser diferente e, principalmente, temático. Se trata de uma ópera espacial, sci-fi, também brincando com a volatilidade do pop (aqui deveras sinfônico) na questão rítmica e na questão lírica. O formato de ópera-rock foi melhor explorado em "Fushichou Densetsu", o terceiro de quatro discos lançados em 1980, mesmo ano da sua graduação do mundo da música. "Cosmos" é mais livre, apesar de se manter dentro de um conceito, ele se apresenta mais como metáfora que literal. "Fushichou Densetsu" também conta com uma das músicas mais  fantásticas de Momoe, "Sayonara no Mukougawa": no seu último show, no Nippon Budokan em 5 de outubro do abrir da nova década, é nessa canção que ela acaba por se render às lágrimas, tamanho o seu significado no contexto da sua despedida de seus fãs (infelizmente o vídeo que existia dessa apresentação no youtube foi excluído).


Em certo momento de Amachan, o 88º "asadora" (dorama matinal) da NHK que foi transmitido no ano passado, Haruko Amano (a mãe da protagonista, interpretada nada mais nada menos que Kyoko Koizumi, idol nos 80s) diz para a sua filha, naquele momento curiosa sobre a história de tentativas da sua mãe nessa indústria, que na metade de 1980 (ano em que a personagem também decidiria ser uma idol) existiam duas grandes idols em atividade, já que Momoe Yamaguchi ainda não havia se aposentado. A outra era Seiko Matsuda, que havia "debutado" nos primeiros meses daquele ano. Rainha deposta, rainha posta? Ao menos para a Haruko. Não dá pra comparar Momoe em seu ápice, e canto do cisne, com Seiko-chan em seu início de carreira.

A verdade é que é possível dividir esse nicho da música popular entre o antes e depois de Momoe, porque a indústria evoluiu com ela nesses anos entre 1973 e 1980. Se houve uma "herdeira" de Momoe no cenário pop japonês da última década do período Showa esse alguém foi Akina Nakamori. Mas ela, a Seiko e demais oitentistas são assuntos pra outros posts da série "História J-pop para Wotas Ignorantes", assim como outras idols de menor estrelismo dos 70s que continuaram suas carreiras na nova década.

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Ser um chato infeliz está acabando com a minha vida (ou ao menos matando o prazer de ver Doctor Who)


Eu sou infeliz por diversos motivos. Um deles é por não conseguir abstrair as besteiras que somos bombardeados todos os dias. Isso inclui, obviamente, obras de entretenimento e me faz abandonar tantos seriados e animes todos os anos. A maioria nem são coisas tão estridentes assim. Queria poder alimentar mais a minha criança interior, só que eu também fui uma criança bem chatinha.

Havia encucado que ia odiar o episódio deste sábado dessa série britânica que venho acompanhando religiosamente a tanto tempo. Muito disso se deve ao roteirista, famoso pelos seus textos ruins, mas a temática também me preocupou a partir do momento que soube se tratar de um cenário "histórico", onde o Doutor visitaria a Inglaterra medieval, à pedido de Clara, e lá dá de cara com Robin Hood. Logo coloquei na minha cabeça que disso não poderia sair uma coisa legal, já que suscitaria em mim conflitos historiográficos demais para poder me entreter 100%.

Ora, esqueço que Doctor Who ainda mantém o seu espírito infanto-juvenil, episódios assim são esperados todos os anos. A série clássica também era célebre em explorar o passado além do futuro e presente, afinal de contas a Tardis é uma versão da máquina do tempo do livro de H. G. Wells que se desloca também no espaço, e em seu início até era utilizado como ferramenta educativa (o primeiro Doctor, além da sua neta, carregava consigo o casal de professores desta). Robin Hood, apesar de ser uma lenda surgida da lore popularesca, ajuda-nos a entender anseios da população miserável da Europa medieval. Personificar a lenda não foi o problema; representar ele e seu bando como é representado em um sem número de desenhos animados da década passada também não.

Que pena que eu sou um infeliz, existem momentos até verdadeiramente bons aqui, engraçadinhos. É mais leve realmente do que os anteriores, o ritmo é muito diferente também. Principalmente, tirando uma referencia que o liga ao resto do que parece ser a trama central da temporada (sempre tem, né), se trata de uma história fechada, prejudicada pelos limites impostos pelos 45 minutos. Está cheio de alegria e felicidade, coisa que já me deixa irritado. Eu não queria ser assim tão chato!

A correria do meio ao final, do desenvolvimento à conclusão, prejudicou o plot, que já havia me causado ojeriza quando soube o tema. Pra não dizer que para mim nada pode ser aproveitado (até porque se fosse dar uma nota seria 6/10, o que já daria para passar de ano se a média fosse seis), me agradou a discussão sobre heroísmo, já que a desconstrução do Doutor como "herói" é uma das coisas boas que se está desenvolvendo nesta temporada. No ápice de tudo, uma resolução das mais idiotas para o problema. Já vi muitas resoluções retardadas, mas essa realmente me deixou de cabelo em pé.

Claro que outro ponto positivo é o Capaldi, não poderia deixar de elogiar a sua atuação como estou fazendo sempre. O que me deixa particularmente feliz é o quanto esse Doutor se distancia do bobão anterior (bobão que eu até que aprendi a amar), e a sua atitude e ceticismo neste episódio em especial (e humor ácido que vem sendo a sua marca) geraram bons momentos. O Doctor de Matt Smith adoraria zoar com o Robin Hood, riria com ele ao invés de suspeitar da sua existência por praticamente toda a duração da história e zombar deste jeito "bobo alegre" do arqueiro (fiquei triste que na cena do banco de dados não aparece uma foto da melhor versão de Robin Hood que o cinema já produziu, que é a dos Trapalhões; mas aquele "moderno" e com a Xuxa, não o de 1974). Exste até uma química legal nesse conflito entre Robin e doutor, e o ator que o interpreta não é ruim não. Repito: estou deixando a minha criança interior, que já era meio chata (mágoas de sertanejo), morrer e com isso o gosto pela aventura, pelo simples escapismo. Se conseguisse abstrair os momentos retardados como a resolução e Clara (não consigo explicar isso, tem vezes que eu adoro e tem vezes que eu abomino essa personagem e torço mesmo para que ela saia no meio da temporada) talvez teria aproveitado melhor. Talvez ele só precisasse de outra chance, que não terá agora evidentemente.

Infelizmente sou uma pessoa ruim e rancorosa, não pararei de reclamar desse episódio até o Moffat aprontar das suas novamente.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Episódio com Daleks como tem toda temporada


Outra semana de agosto, a última, finalmente. Se aproxima o espocar da champagne e o retinir das taças, como dizia Arrigo Barnabé. Outro episódio de Doctor Who e outra rodada do campeonato brasileiro. Outra derrota do palmeiras (de duas), causada mais um vez por erro do goleiro. É melhor não me alongar nisso, já que nem vi a maior parte do jogo contra o Internacional (que deveria se envergonhar de não ter feito mais gols) pois fiquei irritado e aproveitei que já tinha baixado o tal episódio do Dalek. Peço desculpas desde já por qualquer spoiler que esse texto venha a conter, melhor ler só se já tiver realmente visto (e se não ler também não vai perder muita coisa; mas também afinal em que um spoiler estraga a experiência audiovisual hoje em dia?).

Lembro-me como se fosse ontem o meu primeiro "episódio de Dalek", oportunamente o primeiro com os principais vilões da série em sua nova encarnação, e que foi chamado na época apenas de "Dalek", no singular. Para mim (e muitos chatos) os roteiros mais fracos do "revival" costumam girar em volta dos nossos exterminadores favoritos. É claro que o sexto episódio da primeira temporada é uma exceção. Outra exceção, e aqui entramos na abordagem psicológica também presente no primeiro e que está escancarado neste "Into the Dalek", é "Asylum of the Daleks", o primeiro episódio da sétima temporada. Em 2012 estávamos caindo também... ops, prometi não falar sobre futebol em posts sobre Doctor Who.

Analisando superficialmente não há nada de tão original nesse episódio. Já está virando uma regra em histórias do tipo se focarem em: 1) o enorme ódio que o Doutor sente pelas criaturas mais odiosas do universo e 2) na psicologia da criatura, desse ódio (programado) por todas as coisas (que são inferiores, daí a analogia com o nazismo), que a motiva a destruir. O conceito de Dalek defeituoso (dementes) já havia sido utilizado também em "Asylum of the Daleks". Em "Dalek" também vemos um Doutor atormentado pelo ódio, principalmente quando conhecemos o tipo de situação que essa regeneração havia acabado de passar, os horrores que vivenciou e que estava tentando esquecer. A natureza dos nazistas espaciais já foi analisada de diversas formas ao longo desse meio-século, e o caso aqui também tem muito de reciclado, apesar de tentar apontar para novas possibilidades (i.e. a possibilidade de um Dalek se tornar "bom", por defeito ou realização existencial acrescida de defeito físico - ou não).


Miniaturização também é um tema já utilizado no passado da série, e é uma referência bacana das ficções científicas dos anos 1950 e de desenhos animados em que ela ocorre com o intuito de possibilitar a exploração (educativa) do corpo humano. A anatomia do Dalek acaba por virar um grande plus do episódio, com uma mistura de cenários Alien-like, escuros e misteriosos, a ameaça constante dos anticorpos mecânicos que protegem o organismo, e a parte orgânica da criatura (impressão minha ou realmente foi feito em stop-motion?).

Na maioria dos roteiros o potencial decisivo da Clara não é explorado, transformando a moça em uma garotinha chata e serelepe em demasia, e na temporada passada o seu personagem acabou sendo engolido pelas comemorações dos 50 anos da série. A sua sequência inicial, Clara professorinha dando em cima do ex-soldado, não me agradou. Até entendi a ligação desse acontecimento com os outros soldados presentes na parte principal da história e a atitude preconceituosa do Doutor para a categoria (e já que o Dalek é o soldado perfeito, sendo pré-disposto biologicamente para tal, também é alvo deste "preconceito", mais visceral obviamente). Mas em outros dois momentos, e principalmente no seu tapa elucidativo no Doutor, que o desperta na busca de uma solução para o problema que havia se revelado logo após a resolução do anterior, a companion do time até que consegue dar uma assistência para um gol bonito. Livre das amarras da "Garota Impossível", estamos vendo um desenvolvimento de personagem melhorzinho e finalmente a companion age como companion, por isso ando repensando a minha birra com a moça (mas acharei bem vindo uma mudança, pode até ser a soldado deste episódio, que tem negado o seu pedido para participar da festa da Tardis por ser milico).

A cena em que o Timelord, ao tentar convencer Rusty de sua bondade, acaba estragando o seu plano ao compartilhar com o Dalek suas lembranças - incluído aí o seu ódio extremo por eles (é bom lembrar que em "Asylum of the Daleks" o Doutor é apagado do banco de dados das criaturinhas, o que não as impede de continuar exterminando pelo universo afora), está desde já entre as minhas favoritas. Rusty acaba mais uma vez adquirindo um ódio mortal por aqueles da sua espécie: saem vitoriosos, ao passo que ele acaba com todos aqueles que estavam invadindo a nave da resistência humana, mas ao mesmo tempo não era isso que o senhor do tempo queria. Apesar da moral aparentemente volátil, o Doutor de Capaldi anda em dúvidas acerca da sua natureza (não sabe se é bom ou ruim, mas irá descobrir que se encontra num meio-termo).


~eps de daleks~ deste tipo são melhores, na minha opinião, que roteiros focados quase que exclusivamente em combate e invasões em massa, mesmo que já não representem novidade nenhuma. Até o combate, aqui numa escala bastante reduzida, volta a parecer aprazível e agoniante, principalmente quando confrontados por soldados humanos em menor número. Enfim, Capaldi continua a me animar com o seu estilo firme de atuação e o seu cínico Doutor que não fica choroso ao fazer algo "ruim". Jenna-Louise Coleman e a sua antes sem sal Clara começa a brilhar, nesta que tudo indica será a sua última temporada na Tardis. O sub-plot que começa a se desenvolver aqui provavelmente evoluirá para a necessidade do término de seu período como companion. A incógnita da temporada, a tal da Missy, faz a sua aparição de lei. Procurem acompanhar as teorias do fandom sobre tal "mistério", é sempre engraçado.

O próximo episódio é o que me preocupa e tem tudo pra ser um filler fedorento (roteiro de Mark Gatiss, sabe, faz a gente ficar com as orelhas em pé), mas Capaldi é capaz de levar nas costas até isso. Melhor não se preocupar tanto, deixar rolar e ser envolvido pelo filler até sentir a sua necessidade para o desenvolvimento do plot e... parei.