sábado, 20 de dezembro de 2014

2014 não foi o melhor dos anos, mas cá está a lista dos meus álbuns japoneses favoritos lançados desde janeiro

Ano passado, lá pela metade de dezembro, decidi seguir o costume recorrente de listar os lançamentos favoritos do ano. Especificamente, álbuns de artistas e bandas japonesas, de qualquer gênero. O resultado foi uma maioria feminina, algumas idols e outras o extremo oposto disto, e uns homens aqui e ali. Não poderia ser diferente em 2014, o ano do Cão.

Realmente se tratou de um ano especial no quesito desgraça, mas cá estou para falar apenas de música. Como no ano passado, selecionei alguns álbuns (singles ficam de fora) que me agradaram ao ouvido e me excitaram. Não estão listados em ordem de preferência. O meu gosto duvidoso fica evidenciado aqui, portanto, e não dou a mínima.

Exagerei na quantidade: pretendia me limitar a dez itens, como em 2013, mas em um ano tão especial seria até um pecado deixar de fora uma ou outra pérola. As resenhas estão mais breves, por pura preguiça. O que vale são as indicações, ninguém quer saber a opinião de um desempregado que mora com os pais e se autodeclarou especialista em música japonesa.

Primeiro, o melhor álbum de 2013 que só fui ouvir em 2014: Dempagumi.inc - World Wide Dempa


Me senti envergonhado de não ter incluído o segundo disco das Dempagumi na lista do ano passado. Foi lançado no dia 11 de dezembro, quando a minha lista já estava fechada, e pra piorar já era janeiro quando tomei ciência dele. Mea culpa, pois este álbum é quase tão bom quanto aquele do Momoiro Clover Z, que declarei como o melhor lançamento de um grupo idol daquele ano. Claro que a minha preferência pelo Dempagumi.inc influencia, e hoje em dia posso dizer que é sim o meu grupo favorito no momento, até mais que o AKB48 e o Momoiro. Se por algum acaso ainda não conheça as figuras aqui está uma boa porta de entrada, já que contém grande parte dos seus "hits" e é muito bem produzido.

OGRE YOU ASSHOLE - Papercraft


Começando por uma boa descoberta difícil de ser classificada musicalmente. Oras, ouvindo pela primeira vez me pareceu claro que esses caras (pelo menos nessa banda só tem homem) planejaram muito bem o disco, conceitualmente. Depois procurei o resto da discografia e aí sim saquei o enigma. "Papercraft" faz parte de uma trilogia de álbuns conceituais da banda, cujo primeiro, "Homely", também marca uma mudança de direção musical e amadurecimento. É óbvia a inspiração psicodélica, e em alguns momentos exala uma aura de post-rock. Mas posso estar falando bobagem.


BiS - WHO KiLLED IDOL?

Ano passado também incluí a collab do BiS com os pioneiros do japanoise Hijokaidan, destacando uma bonita versão de "Suki Suki Dai Suki", da Jun Togawa. Aí pirei um tanto na coisa do "anti-idol", da Togawa nos anos oitenta e do BiS atualmente. Já esse é o canto do cisne do grupo, e “Who Killed Idol” encerra de maneira competente a missão de militância das gurias. Ainda é jpopzão de idol, apesar de variar bastante entre o comum e o extremo nas faixas. Importante destacar o capricho acima da média com o instrumental.  



Eiko Ishibashi - Car And Freezer

Eiko Ishibashi há tempos produz um som que transita entre o jazz e o art pop com influências progressivas (tocou em bandas de Zehul e avant-prog, tais como o Mong Hang). Aqui, além de cantar (em japonês e inglês: são dois discos, com as mesmas músicas nas duas línguas) ela também compôs e participou ativamente do instrumental. “Car And Freezer” se trata de um trabalho completamente autoral, sensível e introspectivo. Não é pra todo mundo, mas não dá pra negar a qualidade.



tofubeats - First Album

Quase uma coletânea de coisas já lançadas individualmente, não fosse novas versões e algumas inéditas, esse álbum de (essencialmente) música eletrônica abusou do heavy rotation no meu radinho. Yusuke Kawai assina como tofubeats, e esse não é o seu primeiro álbum, propriamente dito. Como outros exemplos, começou a fazer música de forma independente, ao mesmo tempo que mostrava o seu trabalho ao mundo através da internet. Este é o seu primeiro lançamento num grande selo, portanto o seu debut na indústria. Recheado de músicas boas e com participações idem, como o Noko do Shinsei Kamattechan, Hitomi Arai das idols Tokyo Girls’ Style, grandes nomes do hip-hop japonês e outros de maior ou igual importância.

especia –
GUSTO
Mais um grupo idol que tenta se destacar na saturada indústria japonesa (no momento surgem mais grupos idols a cada ano que boybands no ocidente durante os anos noventa), fazendo algo diferente do habitual, mas mesmo assim seguindo uma trend. No caso o que as minas do especia fazem é um som que possui referências muito claras ao city pop, a música popular que emanava de carros esportivos dos yuppies antes do jpop ser jpop e a bolha econômica estourar. 

Muito oitentista, apesar de ainda contar com uma estrutura básica idol, e algumas coisas no instrumental e estética dos videoclipes lembra o que se acostumou a chamar de vaporwave de um tempo pra cá. Se encaixa num movimento de revival do city pop, que conta com outros representantes, ao mesmo tempo que neste ano também foi lançado um álbum de covers de clássicos daquele período, por parte desta turma (infelizmente não possuí nenhuma versão cantada por essas meninas).

Seiko Oomori – Sennou

Seiko Oomori já figurava na lista do ano passado, com um disco solo e outro gravado com os meninos do Lai Lai Lai Team (que conta com uma versão fantástica de “Ooki na Ai de Motenashite”, do grupo ℃-ute, que me trouxe lágrimas aos olhos de saudades dos bons tempos do Hello! Project) boa banda indie, mas volta agora arrebentando a boca do balão. Oras, a moça já era bastante atuante no cenário independente, com alguns discos lançados, bons vídeos e tal, esperar menos num trabalho com mais recursos seria idiotice. E o seu primeiro álbum por um grande selo (e a Avex é um dos maiores do Japão) pode ser definido como “pop perfeito”, sem parecer exagerado. 

Da primeira à última faixa, do batidão ao som mais experimental. Sai a sua viola de praticamente uma nota só (está presente em espírito em algumas faixas também) e entra uma produção de encher os ouvidos, mas que ao mesmo tempo não se rende aos limites impostos pela indústria cultural. Seiko ainda é Seiko, esquizofrênica, livre, uma boa síntese da juventude japonesa, quase um “Oyasumi Punpun” que se ouve. Ok, agora passei um pouco do limite.

Shinsei Kamattechan – Eiyu Syndrome

Banda formada em 2007, o Shinsei Kamattechan já é de uma importância na cena indie do país, impulsionando o seu vocalista, Noko, ao status de pequena celebridade. Fazem um rock (sem duvidadas difícil de categorizar, mas dá pra chamar de “alternativo”) que por vezes se aproxima do shoegaze e do pop, e o vocal de Noko é inconstante: por vezes em falsete, quase como a voz de uma criança, ou mesmo gritado, sem preocupações com ritmo. 

É melancólico, principalmente nas letras (muitas vezes baseadas em vivencias difíceis dos integrantes, como a relação de alguém isolado e a sociedade, sexualidade e preconceito), mas também alegre. Recomendo ao interessado procurar os álbuns anteriores.

Tujiko Noriko  -
My Ghost Comes Back

Devia ter 15 anos quando ouvi a música etheral de Noriko, mais especificamente de “From Tokyo to Naiagara”. Diria que foi a porta para um lado da jmusic que perigava ignorar, e uma artista de muita classe. Seu último álbum solo (ironicamente nomeado “Solo”) foi lançado em 2007, e apesar de ter participado de diversos projetos de lá para cá faltava o toque autoral dos seus outros trabalhos. Sete anos depois cá está ele, num álbum lindo, que mesmo não sendo fechado em si mesmo funciona sozinho. Explico: Noriko planejou tal trabalho como um álbum duplo, mas lançado em separado, com a segunda parte para o ano que vem. 

Para ajudar na finalização desta segunda parte e para pagar algo aos profissionais que a ajudaram no processo ela abriu uma página no indieagogo para arrecadar uma grana (não vem dado tão certo, infelizmente). Independente do sucesso de tal campanha, a música presente em “My Ghost Comes Back” é maravilhosa e, por mais brega que isso possa parecer, cheia de sentimentos verdadeiros. Dificilmente entrará na lista de mais vendidos da Oricon, mas trata-se de um exercício único e sincero, uma prova de amor.

Kyary Pamyu Pamyu - 
Pika Pika Fantajin

Outro lançamento de qualidade da rainha de Harajuku. Pode até parecer mais do mesmo na primeira audição, mas possui texturas bem bacanas. É sim inferior ao anterior, o que não é nenhuma vergonha, já que “Nandacollection” é um daqueles clássicos difíceis de serem repetidos. Mais uma vez é preciso bater palmas para Yasutaka Nakata, que continua provando ser um gênio quando se trata de produzir eletropop. Outro fato tornou impossível não incluir “Pika Pika Fantajin” na lista, e foi o seu lançamento em terras brasileiras (sim, comprei na pré-venda), algo bem raro em se tratando de jpop.


Urbangarde - Utsukushii Kuni

O Urbangarde é outra dessas bandas que parecem estar por aí desde sempre, tamanho o impacto dos seus vídeos no imaginário de quem tem algum contato com a música japonesa (tu já deves ter visto esse aqui, mesmo se não conhecer o grupo). Estão ativos desde 2002, produzindo o que chamam de “post-pop”, mas definir num gênero seria limitar o trabalho deles – importante destacar a “alma” teatral do grupo, bem visíveis em seus shows e vídeos. O álbum em questão é o sexto CD lançado, e a banda não mostra sinais de enfraquecimento.  




BABYMETAL - BABYMETAL

Incrível como uma mudança no instrumental e na temática pode aproximar um gênero a um público geralmente "chato" em relação à música pop, que dirá idol. Pois hoje o Babymetal já participou de diversas turnês em solo estadunidense, na companhia de bandas de metal "de verdade" (em festivais) ou solitárias, e atraindo um bom público de curiosos e mesmo que já de declaram fãs, se despindo do preconceito e batendo cabeça ao som de letras fofas como "Give Me Chocolate". 

Foi uma decisão mercadológica genial do produtor do Sakura Gakuin, grupo do qual o Babymetal é subunit, que assim apela para dois nichos distintos. O trio é totalmente centrado em Suzuka Nakamoto ("SuMetal"), cujas capacidades vocais são acima da média no meio idol. Alterna em momentos Death Metal e Power Metal capa e espada, música eletrônica e puta fofura jpop. O álbum não apresenta nenhuma grande novidade, mas funciona como pacote de faixas já lançadas anteriormente em singles.

Vampillia - The Divine Move

2014 também foi o ano das boas surpresas musicais, apesar da zica geral. Esta surpresa em específico se deu pelas participações especiais, depois pela música fantástica de uma banda que desconhecia completamente. Continuo desconhecendo, já que não procurei muito sobre a banda em questão e outros discos em sua discografia. Deveria me envergonhar, pois esses caras de Osaka são fenomenais. 

"The Divine Move" abre e fecha com versões da mesma música ("lilac"), com participação de ninguém menos que Jun Togawa. Outras colaborações incluí as meninas do BiS, Tujiko Noriko, Mick Barr e outros (tirando o gringo, duas integrantes desta lista e uma que já estava presente em alma, ao menos). Meio difícil de explicar o apelo, só ouvindo mesmo.

TK From Ling Tosite Sigure - Fantastic Magic


Ling Tosite Sigure também figurou na lista do ano passado, com o bom álbum "i’mperfect". TK é vocalista e guitarrista dessa banda (o frontman, digamos), por isso assina o trabalho solo simplesmente "TK da banda tal", acredito que para evitar confusão e continuar ligado ao som do grupo, que não é tão distinto assim. Uma de suas faixas, "uravel", até chegou a OP de anime ("Tokyo Ghoul", versão animada do mangá da Shueisha) - não é como se emplacar uma opening de anime fosse grande coisa, mas enfim, tal faixa nem é a melhor do disco. Outro heavy rotation do ano, portanto se não estivesse na lista seria injusto.


Senri Kawaguchi - Buena Vista


Eu fico muito feliz em colocar esse álbum na lista, já que desde quando vi a mocinha aí (ainda bem novinha) tocando bateria em um vídeo no youtube um tempo atrás torcia para que ela arrumasse uma bandinha. Mal sabia eu que em 2013, a guria de então 16 anos já tinha lançado um disco de jazz, este sendo então o seu segundo. Jazz fusion, "eclético", totalmente instrumental, raros vocais e uma banda de ótimos instrumentistas, mesmo o destaque sendo o talento latente de Senri na batera. Todo instrumento brilha. É claro que as composições não são tão geniais assim, mas é legal ver alguém tão precoce e talentosa se encontrando na "indústria" e produzindo música de qualidade, acima de tudo.

The Trio Project (Hiromi Uehara) - Alive

Hiromi é uma veterana em se tratando de jazz, se fossemos comparar com o item anterior, fruto de um talento precoce. A pianista inclusive tocou em São Paulo há alguns meses (infelizmente não deu pra ir ver), acompanhada dos seus colegas do Trio Project, o baixista Anthony Jackson e o baterista Simon Phillips. Acompanho a carreira dela faz algum tempo, e a regularidade das suas gravações é realmente espantosa, e "Alive" não poderia ser diferente. Ela é uma pianista versátil e que não se limita ao simples, indo do sereno ao violento em pouquíssimo tempo. Não me lembro de ter visto uma apresentação dela no youtube em que ela não estivesse sorrindo o tempo inteiro, enquanto martelava, com carinho, o seu divino instrumento. Jazz de primeira qualidade, como uma lata de manteiga aviação.

Shiina Ringo -  Gyakuyunyu ~Kowankyoku~ e Hi Izuru Tokoro


Talvez o mais importante retorno do ano. A retomada da carreira solo de Shiina Ringo, depois do fim da Tokyo Jihen no ano passado, foi irregular mas mesmo assim merece ser citada em sua integridade. Desde 2009, ano de "Sanmon Gossip", ela não lançava um CD solo, e agora temos dois, apesar dos pesares. O primeiro é um disco de covers, mas covers entre aspas, já que são todas músicas escritas por ela e que haviam sido gravado por outros artistas. A wikipédia define bem: é um self-cover album. Não é um demérito, pois são todas músicas ótimas, em versões inéditas e arranjos desgraçados de bons. 


O disco de inéditas tem lá os seus problemas, a maioria causados pela grande expectativa que um comeback de uma artista desta estirpe exige. Seus pontos altos agradam e muito, e não dá pra dizer que os tais pontos baixos desagradam, apesar de ficarem um tanto abaixo da média da discografia da cantora e soarem como releituras de outros clássicos. A decisão de encerrar com uma faixa que já havia sido lançada em single meses após o lançamento do último disco, em 2009, soou a todos estranha, mas se trata de uma música boa demais para ser deixada de fora de um álbum. É meio irregular, desde a capa que parece ter sido feita no paint, mas nem tudo precisa ser espetacular. Um bom ou mediano da Shiina Ringo já é melhor do que muita coisa desta mesma lista, por exemplo. Vamo encerrar por aqui, antes que eu cite todos os álbuns lançados no ano.

Outros que ainda valem a audição:

Mariko GotoKowareta Hako ni Rinakkusu
Kojima Mayumi - On the Road
Kinoco Hotel - Marianne No Jubaku
Boris - Noise
Cocco - Plan C
Leo Ieiri - A Boy
V.A. - TWILIGHT TIME
BiS Kaidan2nd Album
Paipai DekamiLet's Dream Shogakko
Team Syachihoko Himatsubushi