domingo, 24 de agosto de 2014

Wotagei através do tempo

Para o wota (numa definição breve para aqueles que não são do meio: os fãs das idols japonesas) não basta simplesmente assistir aos shows das suas idols favoritas como uma pessoa "normal". Ao wota, e geralmente esse fã mais fanático é do sexo masculino, cabe apoiar sua musa, dançando e cantando coordenadamente numa tentativa de passar a sua energia e incentivar ao máximo quem está no palco. Tal ato é chamado de wotagei.

E o wotagei não surgiu nos anos noventa, obviamente.

Wotas da Yukiko Okada, provavelmente na metade da década de 1980

O termo surgiu depois do fenômeno, coisa do final dos anos 70, quando a cultura idol começava a ficar mais encorpada e o jpop ia se formulando como gênero. O conceito de idol já vinha dos anos 60, adaptado das idoles francesas (principalmente France Gall e Sylvie Vartan), com ares da própria cultura japonesa, vindo do leque de atividades praticadas por gueixas para entreter (a música, mas também a atuação e exploração da beleza e juventude). Mas o período realmente fecundo para essa indústria, empatado com o que vivemos hoje (que é a saturação da saturação) foi a década de 1980. O modelo seguido por praticamente todas essas jovens? A musa das musas, Momoe Yamaguchi, que se aposentou da carreira musical em 1981 - aos 21 anos, depois de se casar (quer algo mais japonês que isso?).

Fãs já se manifestando em apresentação de Momoe, apurem os ouvidos! 
(será que é montagem?)

Se no início de 1980 Momoe preparava a sua graduação, outras idols já corriam para tentar tomar o seu lugar, tal qual Seiko Matsuda, que em seu começo de carreira se distanciava muito da primeira, que mesmo nas canções voltadas mais pro pop evocavam um pouco da sua "criação" enka. Seiko representava um novo modelo de idol, modelo esse que evoluiria com a criação de grupos gigantes tais como o Onyanko Club e com uma tragédia que o colocaria em cheque, apesar de nada ter mudado.

Seiko-chan também tinha sua própria rotina de Wota MIX

A tragédia anunciada? O suicídio de Yukiko Okada, em 8 de abril de 1986, quando tinha apenas 18 anos. Após tentar se matar horas antes, e ver sua tentativa frustrada por seu empresário, Okada se aproveitou de um momento de desatenção daqueles que a guardavam e se jogou do topo do prédio da Sony Music, deixando muitas perguntas acerca dos seus motivos e acarretando uma síndrome de suicídios semelhantes de fãs. O post não é sobre isso, já que é um assunto que pretendo me debruçar com mais cuidado futuramente.

Palmas e cantos para o proto-AKB48, Onyanko Club.


Então wotagei é participar do show, é demonstrar o seu amor e entusiasmo por aquela(s) que está se apresentando, mas não simplesmente gritando desordenadamente como adolescentes no cio. Se nesses vídeos aqui apresentados a mais comum representação é em forma de gritos e cantos caraterísticos, acredito que já nesse período também se faziam rotinas de danças, nada tão organizado e complexo como os wotas de Hello Project e AKB48 bolariam duas décadas depois. Hoje um item que acabou por virar indispensável nas platéias em shows, e portanto para as rotinas de wotagei, são os glow sticks comuns em baladinhas por aqui (bem, o uso no geral foi popularizado pela cultura clubber, então é óbvio que seu habitat natural seja as baladinhas), como se fossem os isqueiros dos festivais americanos de rock.

O Dempagumi, seu grande clássico e o wotagei moderno

Aqui um exemplo do seu uso por wotas de AKB. Existem diversos vídeos no youtube ensinando as coreografias mas vale destacar aqueles onde Nemu Yumemi, das minhas idols de akiba mais amadas do grupo Dempagumi.inc, faz um tutorial para o wotagei "direito" em seus shows (alí acolá). O tema merecia um texto melhor, mas as aulas sobre ~história jpop~ e ~cultura idol~ estão apenas começando, importando o meu projeto do twitter.

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